L. R. Arcano

A História dos Bucaneiros na América | Pirataria no Caribe

Os bucaneiros foram um grupo de marinheiros que assolaram navios e portos espanhóis no Caribe durante o século XVII. Sua atuação, embora breve, foi significativa o suficiente para abalar as estruturas geopolíticas da região, impactando diretamente o domínio espanhol. Operando como corsários, em uma tênue linha entre a legalidade e a pirataria, os bucaneiros deixaram um legado duradouro, que ecoaria na era dourada da pirataria que os sucedeu. Nesse artigo vamos explorar a fascinante história dos bucaneiros: sua origem, as figuras notórias que marcaram sua trajetória e como eles se tornaram sinônimo de aventura e pirataria.

Os Primeiros Bucaneiros e Suas Atividades

O Caribe desempenhou um papel crucial nos conflitos entre as grandes potências europeias no passado. Durante a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), a Espanha tentava consolidar seu domínio no Novo Mundo, enquanto outras nações, como a Inglaterra, França e Holanda, buscavam brechas para explorar as terras recém-descobertas.

A presença espanhola nas regiões do Caribe era fraca, o que gerou um vácuo de poder na área. Esse cenário possibilitou que aventureiros independentes se estabelecessem em ilhas como Hispaniola e Tortuga, à procura de maneiras de enriquecer. E foi assim que surgiram os bucaneiros.

Originados na ilha de Hispaniola, hoje dividida entre o Haiti e a República Dominicana, os bucaneiros eram, em sua maioria, colonos franceses que viviam da caça de bois selvagens, porcos e outros animais nativos da ilha. Inspirados pelos indígenas locais, esse grupo de caçadores adotou um método de secar carne conhecido como “boucane”, que consistia em defumar a carne em uma grelha de madeira. Esse processo lhes rendeu o nome boucanier, que foi traduzido para o inglês como “buccaneer” e, mais tarde, para o termo que conhecemos hoje.

Mapa antigo de Hispaniola - Século XVII
Mapa Antigo de Hispaniola – Século XVII

Uma curiosidade interessante é que o processo de defumação utilizado pelos indígenas era chamado pelos espanhóis de barbacoa, palavra que originou o termo “barbecue” (churrasco) em inglês.

Com essa técnica, a carne se tornava ideal para longas navegações, uma vez que a defumação ajudava a preservá-la por mais tempo em alto-mar. A caça e o comércio de carnes defumadas para corsários que navegavam na região tornaram-se atividades comuns, sendo uma das principais fontes de sustento para os bucaneiros.

No entanto, com o tempo, a crescente perseguição espanhola empurrou esses caçadores para um caminho inesperado: a pirataria.

A Investida da Espanha Contra os Bucaneiros

A permanência dos bucaneiros em Hispaniola não durou muito. Os espanhóis, determinados a proteger suas terras no Caribe, atacavam-nos frequentemente, tanto de maneira indireta, ao matar os animais que eram alvos dos caçadores, quanto de forma direta, por meio de patrulhas navais e incursões contra os assentamentos bucaneiros.

Eventualmente, a permanência nas terras de Hispaniola tornou-se insustentável. Assim, os bucaneiros foram forçados a migrar de ilha em ilha, até que encontraram um novo lar: a lendária ilha de Tortuga.

Migração dos Bucaneiros para Tortuga e Port Royal

Após as agressões espanholas, os bucaneiros buscaram novos locais para se estabelecer. O mais relevante desses refúgios foi a Ilha de Tortuga, onde se uniram homens e mulheres de diversas origens, especialmente ingleses, holandeses e africanos. Lá, não demorou para que percebesse que a caça já não era mais tão lucrativa. Então, decidiram se juntar aos marinheiros que praticavam a pirataria nas costas da ilha.

Inicialmente, as incursões eram de baixo risco. Saqueavam destroços de naufrágios e restos de mercadorias trazidas pelo mar. Com o tempo, o grupo se tornou mais ambicioso. Começaram a usar barcos menores para invadir embarcações durante a noite, em grupos de dezenas de homens, abordando-as quando menos se esperava.

Bucaneiro no Timão de Um Navio

Com o passar dos anos, esses grupos cresceram em número, e os ataques dos bucaneiros se tornaram mais ousados. Recrutaram tripulações experientes e construíram navios mais rápidos e bem armados. Seus alvos eram, principalmente, os navios espanhóis que, por azar, cruzassem seus territórios.

Eventualmente, as atividades dos bucaneiros se tornaram cada vez mais legitimadas, à medida que começaram a adquirir cartas de corso que endossavam seus atos. Com a Espanha em guerra contra grande parte da Europa, os bucaneiros passaram a receber autorizações oficiais dos governos coloniais para atacá-los. Assim, em determinado momento, a maioria dos bucaneiros se transformou em corsários legalizados: praticavam a pirataria, mas de forma oficial e regulamentada.

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Enquanto isso, Port Royal, na Jamaica, consolidava-se como outro centro de operações após a ocupação inglesa da ilha em 1655. Os governos coloniais da Jamaica viram nos bucaneiros uma oportunidade para fortalecer suas defesas contra ataques espanhóis. Com o apoio oficial, na forma de cartas de corso, os portos de Tortuga e Port Royal tornaram-se celeiros de planejamento e distribuição das riquezas saqueadas.

Alguns Bucaneiros Notórios

Nesse meio tempo, os bucaneiros começaram a ganhar notoriedade nos mares. Capitães como Sir Henry Morgan, François l’Olonnais e Roche Braziliano, um pirata que viveu por muito tempo no Brasil, se destacaram como exímios comandantes navais, com um faro militar distinto.

Henry Morgan, em especial, se tornou lendário ao liderar os bucaneiros em expedições militares que ultrapassaram a pirataria convencional. Ele foi responsável por muitos feitos, sendo um deles o mais ousado da história bucaneira. Em 1671, Sir Morgan comandou o saque da cidade do Panamá, reunindo sob seus estandartes uma frota de dezenas de navios e centenas de homens. Ele navegou por rios traiçoeiros, enfrentando as forças espanholas no caminho e, ao final, teve sucesso ao saquear uma das cidades mais ricas do continente.

Henry Morgan - Pirata & Bucaneiro

O problema é que seu sucesso não foi tão bem recebido quanto o esperado. Ao retornar à Jamaica, Henry Morgan foi preso e enviado de volta à Inglaterra para enfrentar julgamento. O motivo? Bem, o Tratado de Madri havia sido assinado um ano antes, e isso significava que seus atos agora deveriam ser considerados pirataria. No entanto, Morgan não foi condenado. Pelo contrário, recebeu um título de cavaleiro, tornando-se Sir Henry Morgan, e foi designado governador da Jamaica como recompensa pelos seus serviços à coroa. Mas isso é uma história para outro dia.

A Transição dos Bucaneiros para a Pirataria

O início do declínio dos bucaneiros se deu com o Tratado de Madri, assinado em 1670 entre a Inglaterra e a Espanha. O acordo visava encerrar as hostilidades no Caribe, proibindo oficialmente a pirataria e as atividades bucaneiras. Governadores coloniais que antes incentivavam os bucaneiros passaram a ser punidos por apoiar tais práticas.

Apesar das restrições, alguns bucaneiros, especialmente os franceses, continuaram suas incursões até o final do século XVII. Contudo, com o tratado de paz entre França e Espanha em 1697, os últimos resquícios dos bucaneiros desapareceram. A era de glória deu lugar a um novo período, onde piratas independentes e alianças coloniais reformulariam o destino do Caribe.

Com a queda dos bucaneiros no final do século XVII, o Caribe viu o surgimento de uma nova geração de piratas. Embora menos organizados e mais abertamente ilegais, esses piratas herdaram dos bucaneiros sua expertise naval e suas táticas de combate. Os “piratas clássicos” do início do século XVIII, como Barba Negra e Calico Jack, adaptaram o espírito bucaneiro à nova realidade de um Caribe onde a lei, embora ainda flexível, era menos tolerante à pirataria aberta.

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Conclusão

Os bucaneiros, muito além de simples saqueadores, foram agentes de transformação em uma época marcada por intensas disputas geopolíticas. Suas ações como corsários tiveram um impacto direto no domínio espanhol no Caribe e abriram caminho para o avanço de outras potências europeias na região. Embora a era dos bucaneiros tenha sido relativamente breve, seu legado ecoa até hoje, tanto no imaginário popular quanto nos registros históricos, como um capítulo fascinante da história marítima.

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