L. R. Arcano

Keelhauling – A Mais Brutal Punição Pirata

“Ontem tentei escrever a descrição de uma visão horrível. Foi tão revoltantemente cruel, tão bárbaro, tão infamemente brutal, que desisti” – Passagem do jornal London Morning Advertiser no ano de 1882 após presenciarem o keelhauling.

Entre todas as punições temidas em alto-mar – do chicote ao enforcamento – nenhuma causava tanto pavor quanto a passagem pela quilha, o infame keelhauling. Esse castigo brutal e desumano não foi planejado como um método de execução, mas como um ato de tortura extrema. No entanto, poucos eram aqueles que conseguiam sobreviver a ele. Durante o keelhauling, o marinheiro condenado era amarrado pelos pés e jogado ao mar, sendo arrastado sob a quilha – a parte inferior do navio – enquanto o casco áspero e as cracas afiadas mutilavam seu corpo.

Assista ao Vídeo Sobre o Tema:

Eu sou L. R. Arcano, autor da saga de fantasia ‘O Chamado das Profundezas’, e neste artigo vamos explorar aquela que talvez seja a punição mais cruel da vida marítima: a passagem pela quilha.

Keelhauling – A Mais Brutal Punição dos Piratas

Transgressões em alto-mar nunca passavam impunes. Agredir, roubar, se amotinar contra superiores ou cometer qualquer outro crime a bordo resultava em punições severas — desde chicotadas, cortes na ração e no pagamento até o enforcamento, dependendo da gravidade. “Essas regras rígidas se aplicavam tanto a piratas quanto a outros marinheiros.

Curiosamente, a passagem pela quilha, possivelmente a mais brutal de todas as punições, era mais comum em navios de guerra do que entre os piratas. Esse método de tortura era simplesmente grotesco. Um marinheiro condenado era despido e amarrado de forma que não pudesse nadar, com pesadas correntes ou até balas de canhão atadas ao seu corpo. Em seguida, ele era preso a duas cordas: uma fixada no penol da verga onde ele seria lançado e a outra passava por baixo do navio, ancorada no penol do lado oposto.

O infeliz era então arremessado ao mar. O peso adicional o puxava para baixo da linha d’água, enquanto a tripulação, do outro lado do convés, puxava a segunda corda, forçando seu corpo contra o casco. Esfolado vivo pelo atrito com o casco repleto de cracas, o marinheiro também se afogava em água salgada, até que, finalmente, era erguido do outro lado da embarcação.

Keelhauling Pintura

Mas porquê o keelhauling era tão efetivo, a ponto de ter sido considerada um destino pior que a morte?

Como Era a Passagem Pela Quilha?

O afogamento não era o principal objetivo do keelhauling, embora muitos tivessem encontrado esse fim. A intenção era infligir uma dor excruciante, provocada pelas lacerações graves ao ser arrastado sob o casco do navio. O agravante desses ferimentos era o casco incrustado de cracas, mexilhões e outras formas de vida marinha, todas rígidas e afiadas.

Enquanto era puxado, essas incrustações rasgavam suas roupas, pele e músculos, resultando em feridas profundas e em intensa perda de sangue. Não era incomum que homens submetidos a essa tortura morressem pouco depois, seja pela gravidade dos cortes ou pelas infecções que contraíam, caso sobrevivessem. A passagem pela quilha equivalia a uma sentença de morte torturante ou, no mínimo, a uma mutilação severa. Em alguns casos, marinheiros perdiam membros durante o processo, e há relatos de decapitações acidentais.

A velocidade com que o condenado era puxado era determinante: se a tripulação o movesse devagar demais, ele poderia afundar e escapar parcialmente dos ferimentos no casco, mas o risco de afogamento ainda era iminente. Em situações onde o casco do navio havia sido recentemente limpo e estava liso demais para causar ferimentos graves, a punição assumia outras formas.

Para prolongar a tortura, o condenado podia ser lançado na proa e arrastado lentamente até a popa, permanecendo submerso por vários minutos. A marinha holandesa adaptou essa prática para evitar que os marinheiros morressem afogados, introduzindo uma esponja embebida em óleo na boca da vítima, permitindo que ela conseguisse mais uma inspiração de ar enquanto estivesse submersa, prolongando assim o sofrimento.

keelhauling real

E o que acontecia quando, mesmo após uma sessão brutal de passagem pela quilha, o condenado sobrevivia ou não se machucava o suficiente? Caso o capitão considerasse o resultado insuficiente, o marinheiro poderia ser submetido a novas sessões. Mesmo se, por uma reviravolta do destino, ele sobrevivesse a três passagens, certamente estaria destroçado – e o capitão, se quisesse, poderia deixá-lo pendurado no mastro como um aviso claro aos demais tripulantes sobre o destino reservado aos infratores.

Agora que já entendemos a crueldade dessa prática, é hora de olhar para a sua origem. Vamos descobrir a história do keelhauling e como ele se tornou um método temido nas marinhas ao longo dos séculos.

ARTIGOS RELACIONADOS

5 Mitos Piratas que na Verdade são Mentiras
Descubra: o Que os Piratas Comiam Durante uma Viagem?
A História de Davy Jones – Lendas do Mar

A História do Keelhauling

Os primeiros registros da passagem pela quilha datam da Grécia antiga, onde artefatos, incluindo vasos, retratam essa prática como um ato de tortura. A Marinha Real Inglesa adotou oficialmente essa punição no século XI, enquanto a marinha holandesa a utilizou entre 1560 e 1853. Embora outros países, como a França, também a tenham praticado, o uso na marinha holandesa era mais significativo.

Um dos incidentes mais notáveis ocorreu em 1673, quando Cornelis Evertsen, o Jovem, puniu marinheiros por assassinato, atraindo uma grande multidão que assistia ao ato. A prática, embora oficial, era rara. Uma descrição contemporânea destaca sua brutalidade, sugerindo que seu propósito não era necessariamente fatal:

“O keelhauling, uma punição infligida por várias ofensas na Marinha holandesa. É realizada mergulhando repetidamente o delinquente sob o fundo do navio de um lado, e içando-o do outro lado, depois de ter passado sob a quilha. Os blocos, ou roldanas, pelos quais ele é suspenso, são presos às extremidades opostas da verga principal, e um peso de chumbo ou ferro é pendurado em suas pernas para afundá-lo a uma profundidade adequada. Por este aparelho ele é puxado para perto do braço da verga, e então cai repentinamente no mar, onde, passando por baixo do fundo do navio, é içado no lado oposto da embarcação.”

Passagem pela Quilha - Keelhauling

A prática foi interrompida em meados do século XIX, mas relatos de sua aplicação continuaram até o século XX, como o caso em 1882, quando dois marinheiros egípcios foram punidos perto de Alexandria. Atualmente, a passagem pela quilha é considerada desumana e cruel, e o termo “passar pela quilha” evoluiu para se referir a punições extremas por infrações menores.

Conclusão

A passagem pela quilha, uma prática tão brutal e desumana, nos remete a um tempo em que a disciplina nas embarcações era mantida por métodos que beiravam a tortura. O legado dessa punição é um lembrete sombrio da brutalidade que os marinheiros enfrentavam e das severas consequências que aguardavam aqueles que infringissem as regras do mar.

Espero que tenha gostado do conteúdo! Muito obrigado pela leitura e te vejo na próxima aventura!

Conheça o Meu Livro!

Gosta de histórias piratas? Então não perca a chance de mergulhar ainda mais nesse universo com meu livro “O Chamado das Profundezas: Por Ouro e Glória”, que se passa no final do século 17 e narra a jornada de um capitão pirata ambicioso pelos mares do Caribe. Os links para adquirir o livro estão na descrição.

Capa do Livro O Chamado das Profundezas

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima